

Chanceler da Colômbia denuncia presença militar 'desmedida' dos EUA no Caribe
A chanceler da Colômbia, Rosa Villavicencio, criticou a presença militar "desmedida" dos Estados Unidos em águas do Caribe e assegurou que "nada tem a ver com a luta contra o narcotráfico", em uma entrevista à AFP em Bogotá.
Os Estados Unidos enviaram oito navios ao mar do Caribe para combater o tráfico de drogas e, desde o início de setembro, eliminaram três embarcações que supostamente traficavam drogas a partir da Venezuela, com um saldo de 14 mortos, segundo o presidente americano, Donald Trump.
"O que vemos é uma presença militar desproporcional na região que nada tem a ver com a luta contra o narcotráfico", disse a chanceler.
Washington também enviou a Porto Rico aviões de caça F-35 para apoiar a frota composta por sete navios e um submarino de propulsão nuclear.
"O bombardeio" contra as "embarcações (...) nos parece que não é a maneira do ponto de vista da legalidade", acrescentou sobre os ataques americanos, uma ação também questionada pelas Nações Unidas. A Colômbia aposta em capturar os supostos narcotraficantes e rejeita "a morte dessa maneira", acrescentou.
Os Estados Unidos são o principal aliado comercial e militar da Colômbia, mas desde a chegada ao poder de Trump e do esquerdista Gustavo Petro as relações se deterioraram.
Diante de uma eventual intervenção militar americana, a chanceler afirmou que a Colômbia recorreria a instâncias internacionais para que "prevaleça o direito internacional".
Villavicencio assegurou que seu país defenderá a soberania venezuelana, apesar de "não reconhecer o governo" de Nicolás Maduro após as questionadas eleições de julho de 2024.
"É claro que a Venezuela está preocupada, como está toda a região, pela possibilidade de uma intervenção. Nós defendemos a soberania da região e reafirmamos a declaração da América Latina como território de paz, por isso não corresponde essa presença militar desmedida na região", disse a ministra.
Os Estados Unidos acusam Maduro de pertencer ao suposto cartel de los Soles, cuja existência é negada por Colômbia e Venezuela.
– "Decisão política" -
Na segunda-feira, os Estados Unidos consideraram insuficientes os esforços de Bogotá para frear o tráfico de drogas e retiraram-lhe a certificação como aliado antidrogas.
"Está claro que foi uma decisão política, para condenar o presidente", disse Villavicencio e qualificou a medida de "injusta".
Trump retirou o país sul-americano da lista de nações que lutam contra o narcotráfico, mas com uma isenção das sanções que permite que siga a cooperação econômica e militar, sem os duros cortes que teria implicado o seu fim.
A Colômbia tem recorde de cultivos ilícitos, com 253 mil hectares segundo a ONU em 2023, e os diálogos de paz com os principais grupos ilegais estão estagnados.
Como se trata de uma decisão política, "não vamos mudar nossa política, vamos continuar fazendo o que estamos fazendo porque é eficaz", insistiu Villavicencio.
B.Simon--VZ