

Romênia enfrenta uma escolha existencial: europeísmo ou soberania trumpista
Um duelo a favor ou contra a trajetória pró-europeia da Romênia. É assim que se espera o segundo turno entre o candidato de extrema direita George Simion e o prefeito centrista de Bucareste, Nicusor Dan, em duas semanas, uma disputa que interessa tanto Bruxelas quanto Washington.
No Canadá e na Austrália, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi um dispersor de votos que prejudicou as forças conservadoras, mas na Romênia ele deu asas ao extremista de direita George Simion, um autoproclamado trumpista, que obteve quase 41% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial.
No segundo turno, Simion enfrentará o prefeito de Bucareste, Nicusor Dan, que obteve quase 21% dos votos.
Para Nicusor Dan, um "candidato isolacionista" deve ser derrotado no segundo turno para manter a "trajetória pró-Ocidente" da Romênia.
Esta "batalha" tem um caráter particular neste vizinho da Ucrânia às margens do Mar Negro, cujo papel na Otan aumentou desde o início da invasão russa no território ucraniano em fevereiro de 2022.
Na União Europeia, onde a extrema direita obtém grandes progressos ao alcançar, nos últimos anos, seus melhores resultados eleitorais desde o fim da Segunda Guerra Mundial, uma vitória de Simion fortaleceria o campo soberanista, simbolizado pelos chefes de Governo húngaro, Viktor Orban, e eslovaco, Robert Fico, e pela italiana, Giorgia Meloni.
- "Belo bumerangue" -
"A Romênia acaba de dar a Von der Leyen um belo bumerangue", brincou Marine Le Pen, líder da extrema direita francesa, na rede X, acusando-a implicitamente de ter desempenhado um papel na anulação da eleição de 24 de novembro, surpreendentemente vencida por outro candidato de extrema direita, Calin Georgescu.
"A eleição reflete um claro crescimento do eleitorado conservador e tradicional, atraído pelo desejo de romper com os partidos tradicionais", disse Sorina Soare, da Universidade de Florença, à AFP.
A "chapa Simion-Georgescu" — os dois homens formaram uma aliança — "incorpora uma narrativa populista clássica, ao mesmo tempo em que ecoa em sua retórica os comentários do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance" sobre um suposto declínio na liberdade de expressão na Europa.
George Simion, que se eleito representará a Romênia nas cúpulas europeias, quer mudanças na Europa, mas não uma ruptura.
O candidato de extrema direita é pró-Otan e diz que, devido aos seus laços com Trump, ele é o "único candidato que pode garantir a presença de tropas americanas na Romênia", onde há mais de 1.700 soldados.
- Medo da mudança -
Embora tenha chamado o presidente russo, Vladimir Putin, de "ditador sangrento" no domingo, Simion se opõe a qualquer ajuda militar à Ucrânia.
Tanto a Ucrânia quanto a Moldávia o proibiram de entrar em seus territórios por ele ter defendido a devolução de certas áreas de ambos os países à Romênia.
Em Bucareste, uma parte da população expressou medo de uma mudança geopolítica.
Laura, uma funcionária pública de 42 anos que não quis revelar seu sobrenome, espera que a Romênia "continue o caminho europeu iniciado em 1989".
"Eu não gostaria de viver em um país onde seríamos forçados a olhar para o leste e nos isolar", disse Bogdan Daradan, um redator de 41 anos.
Até o momento, nenhum dos candidatos pró-europeus pediu voto para Nicusor Dan.
P.Schulz--VZ