

Europa aumenta pressão sobre Israel por guerra em Gaza
A União Europeia (UE) e o Reino Unido elevaram, nesta terça-feira (20), a pressão sobre Israel para que detenha sua ofensiva em Gaza e permita a entrada de ajuda humanitária no território palestino, onde dezenas de pessoas morreram por bombardeios.
Depois de mais de dois meses e meio bloqueando o acesso de toda a ajuda humanitária, Israel anunciou hoje a entrada na Faixa de 93 caminhões da ONU, que se somam a outros nove que entraram na segunda.
Mas a situação humanitária continua sendo catastrófica, agravada pela intensificação das operações militares israelenses. Diante disso, países europeus levantaram a voz.
Na UE, a responsável pela diplomacia do bloco, Kaja Kallas, anunciou a revisão do acordo de associação com Israel, em vigor desde o ano 2000, devido à situação em Gaza.
"Depende de Israel o desbloqueio da ajuda humanitária. Salvar vidas deve ser nossa máxima prioridade", disse Kallas após uma reunião de ministros das Relações Exteriores em Bruxelas.
Pouco antes, o Reino Unido tinha anunciado a suspensão das negociações com Israel para um acordo de livre comércio.
"As pressões externas não desviarão Israel de seu caminho em defesa de sua existência e segurança", respondeu o Ministério das Relações Exteriores israelense à decisão de Londres.
Em um comunicado posterior, a pasta também criticou que a declaração de Kallas "reflete uma incompreensão total da realidade complexa que Israel enfrenta" e "incentiva o Hamas a se manter em suas posições".
- 'Uma gota de água' -
Na segunda-feira, Canadá, França e Reino Unido já haviam advertido que não ficariam "de braços cruzados" diante das "ações escandalosas" de Israel em Gaza.
A escalada da ofensiva no território palestino "é moralmente injustificável, totalmente desproporcional e contraproducente", afirmou o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy.
Diante dessas pressões, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que permitiria "por razões diplomáticas" o acesso de ajuda humanitária à Faixa, bloqueado desde 2 de março.
Na segunda-feira, nove caminhões com alimentos e comida para bebês entraram em Gaza, uma quantidade que a ONU denunciou como "uma gota de água no oceano".
O órgão do governo israelense encarregado dos assuntos civis nos Territórios Palestinos anunciou hoje o acesso de outros "93 caminhões da ONU com ajuda humanitária, incluindo farinha para panificação, alimento para recém-nascidos, equipamentos médicos e medicamentos".
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, mostrou-se satisfeito de "ver que a ajuda está começando a fluir de novo".
Na semana passada, o espectro de uma fome generalizada em Gaza despertou uma crítica incomum do presidente americano Donald Trump a seu aliado israelense.
Quando Netanyahu anunciou o desbloqueio do acesso à ajuda na segunda, o justificou pela necessidade de evitar que "imagens de fome generalizada" deteriorem o respaldo de "países amigos".
- Dezenas de mortos -
Nesta terça, os primeiros socorros de Gaza reportaram a morte de pelo menos 44 pessoas, "a maioria crianças e mulheres", pelos bombardeios.
Em um posto de gasolina do campo de refugiados de Nuseirat, onde morreram 15 pessoas, Mahmoud al Luh carrega uma sacola com restos humanos até um veículo.
"Isto são civis. Crianças que dormiam. Que culpa elas tinham?", se perguntava.
"Já faz um ano e meio de bombardeios e um sofrimento imenso. Não podemos mais", lamentava Douaa al Zaanin, que perdeu familiares em um bombardeio contra uma escola que acolhia deslocados em Cidade de Gaza.
O Exército israelense afirmou nesta terça que atingiu "mais de 100 alvos terroristas" em Gaza nas últimas horas.
Na segunda-feira, Netanyahu mostrou-se aberto a um acordo que ponha fim à guerra, mas pôs como condições o "exílio" do Hamas e o "desarmamento" do território.
A guerra começou após o ataque do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.218 mortos, a maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais
Os islamistas também sequestraram naquele dia 251 pessoas. Destas, 57 continuam cativas em Gaza, mas 34 foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
A campanha militar lançada em represália por Israel matou pelo menos 53.573 pessoas, a maioria civis, assinalou o Ministério da Saúde de Gaza, cujos dados a ONU considera confiáveis.
A mediação de Catar, Egito e Estados Unidos permitiu quase dois meses de trégua, que Israel rompeu em 18 de março para retomar sua ofensiva sobre Gaza.
Os contatos estão paralisados e Israel retirou seus chefes negociadores de Doha. Pouco antes, o Catar denunciou que a intensificação da ofensiva israelense compromete "qualquer possibilidade de paz" em Gaza.
R.Billman--VZ