

Irã descarta negociar programa nuclear com EUA enquanto Israel continuar sua 'agressão'
O Irã descartou nesta sexta-feira (20) retomar as negociações sobre seu programa nuclear com os Estados Unidos enquanto Israel não parar os bombardeios iniciados há uma semana contra o seu território.
O chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, o tenente-general Eyal Zamir, advertiu, no entanto, que é necessário se preparar para uma "campanha prolongada".
Israel, potência atômica não oficial, iniciou em 13 de junho uma campanha de ataques aéreos contra o Irã alegando que Teerã estava prestes a conseguir uma arma nuclear. Os iranianos, que negam essa acusação, responderam com lançamentos de mísseis e drones.
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que o último relatório de sua agência não contém nenhuma indicação de que o Irã esteja atualmente desenvolvendo uma arma atômica.
Nas últimas semanas, negociadores americanos e iranianos realizaram várias rodadas de conversas para um novo acordo sobre o programa nuclear iraniano. O último pacto, assinado em 2015, ficou obsoleto após a saída unilateral dos Estados Unidos em 2018, durante o primeiro mandato de Trump.
Mas as negociações entre Teerã e Washington para um novo acordo foram interrompidas com o início dos bombardeios israelenses. O pacto anterior buscava garantir a natureza civil do programa nuclear iraniano em troca do levantamento gradual das sanções econômicas.
"O Irã está disposto a reconsiderar a diplomacia assim que a agressão cessar", disse o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, após uma reunião com seus homólogos europeus em Genebra.
O chanceler acrescentou, no entanto, que seu país era "favorável à continuidade das negociações com o E3 [Alemanha, França e Reino Unido] e a União Europeia".
O pacto de 2015 foi assinado entre Irã e o P5+1 — Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido, mais Alemanha.
A guerra entre Irã e Israel já deixou até agora pelo menos 224 mortos no Irã e 25 em Israel, que também matou vários comandantes militares e cientistas iranianos, além de ter provocado vários danos em sua infraestrutura nuclear.
- 'Máximo' de duas semanas-
Em meio as ataques cruzados diários entre os dois países em guerra, os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Reino Unido instaram o Irã nesta sexta-feira a não "esperar o fim do conflito" e buscar a via diplomática para resolver a questão de seu programa nuclear.
Os Estados Unidos mantêm a incerteza sobre seu possível envolvimento no conflito.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está intensificando os esforços para convencer o presidente americano Donald Trump a apoiar Israel na guerra.
Embora Israel seja capaz de atacar todas as instalações nucleares do Irã, "toda ajuda é bem-vinda", afirmou ele na quinta-feira.
O presidente americano insistiu nesta sexta-feira em que o Irã tem no "máximo" duas semanas para evitar possíveis ataques aéreos de Washington.
Somente os Estados Unidos possuem a bomba GBU-57, a única capaz, em tese, de atingir o núcleo do programa nuclear iraniano, enterrado em grande profundidade, em Fordo, ao sul de Teerã.
No oitavo dia de guerra, as sirenes de alerta foram acionadas nesta sexta-feira no sul de Israel após novos disparos de mísseis iranianos. No norte, o Hospital Rambam de Haifa relatou ter atendido 19 feridos, um deles em estado grave.
O Exército israelense também bombardeou lançadores de mísseis no sudoeste do Irã. Ataques também foram relatados em Teerã.
"Lançamos a campanha mais complexa da nossa história", disse Zamir.
"Apesar do progresso significativo, dias difíceis nos aguardam. Estamos nos preparando para muitas eventualidades", acrescentou.
- Dias 'aterrorizantes' -
Quando Trump retirou Washington do acordo nuclear em 2018, Teerã deixou de cumprir o compromisso de limitar o enriquecimento de urânio a 3,67%.
Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, enquanto são necessários 90% para desenvolver uma arma nuclear. A República Islâmica garante que seu programa tem apenas fins civis.
Apesar da ambiguidade de Israel sobre o seu arsenal, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo calcula que o país possui 90 ogivas nucleares.
A campanha israelense provocou pânico no Irã, com escassez de alimentos e acesso limitado à internet, segundo os depoimentos de pessoas que fugiram dos ataques.
"Estes dias e noites foram aterrorizantes [...] As sirenes, os lamentos, o perigo de ser atingido por mísseis", disse à AFP Mohammad Hassan, estudante da Universidade de Teerã, ao retornar a seu país, o Paquistão.
O Reino Unido e outros países, incluindo a Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos no Irã, anunciaram nesta sexta-feira que retiraram suas equipes diplomáticas do país persa.
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P.Schulz--VZ