

Com manobras militares, Venezuela tenta mostrar força diante dos Estados Unidos
Treinamento de civis, convocação de reservistas, operações nas fronteiras e exercícios de guerra em uma ilha do Caribe: a Venezuela tenta mostrar força diante do envio de navios dos Estados Unidos à região.
Analistas concordam, no entanto, que a capacidade real de combate das Forças Armadas venezuelanas está comprometida por anos de crise econômica. E afirmam que as manobras são uma operação de propaganda para mostrar à população que o governo não tem medo e consegue controlar a situação.
Os oito navios de guerra enviados por Washington ao Caribe com o argumento de combater o narcotráfico são considerados pelo governo de Nicolás Maduro uma "ameaça militar" que busca uma "mudança de regime" na Venezuela, com uma invasão.
Caracas respondeu a esta "guerra não declarada" - como é chamada pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López - com três dias de exercícios militares na ilha La Orchila.
A mobilização em La Orchila, no norte do país, incluiu 12 navios da Marinha, 22 aeronaves, entre helicópteros, caças e aviões de transporte, veículos anfíbios e 20 botes de madeira de pescadores que se uniram à Milícia, um corpo militar formado por civis.
Durante 72 horas, 2.500 pessoas participaram das manobras, que incluíram lançamentos de mísseis e foguetes, além de testes de armas.
"A Venezuela tem que continuar sendo inexpugnável", disse na sexta-feira o ministro do Interior, Diosdado Cabello.
O governo divulgou em seus canais oficiais imagens de aviões Sukhoi no céu de La Orchila. Paraquedistas saltam sobre a ilha e tanques de guerra apontam seus canhões para o céu. As imagens incluem peças de artilharia e radares antiaéreos comprados da Rússia, o aliado crucial da Venezuela.
- "Manobras de resistência" -
"A mobilização é pura propaganda. Não é nada estratégico reunir tanta força nesta ilha porque é um alvo fácil. Um bloqueio marítimo com apoio aéreo os elimina na hora", afirmou o analista político e militar Hernán Lugo-Galicia.
"Eles estão executando manobras de guerra regular, quando eles mesmos falam de guerra assimétrica", disse o major da reserva Raynell Martínez, exilado nos Estados Unidos.
"São manobras de resistência", acrescentou, antes de destacar que os exercícios são uma mensagem aos civis, para que acreditem que o país tem Forças Armadas operacionais.
Um general da reserva, especializado em geopolítica, concorda com Martínez.
"É para dizer que eles não têm medo de enfrentar ninguém, a ponto de ir para o mar perto dos americanos. Tenta dar a sensação de que tudo está sob controle", disse à AFP sob anonimato devido ao risco de represálias.
"O ambiente operacional onde os exercícios acontecem é completamente diferente do território continental e, portanto, isto é um desperdício de dinheiro e tempo, uma avaliação ruim da situação e ratifica que é uma encenação", afirmou.
O governo dos Estados Unidos também divulgou nas redes sociais imagens de soldados, navios e caças em Porto Rico e nas águas do Caribe.
Relatórios como o balanço militar de 2024 do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos afirmam que as Forças Armadas da Venezuela possuem 123.000 soldados, com outros 220.000 nas politizadas Milícias, formadas por seguidores do chavismo.
Mas fontes ligadas ao mundo militar disseram à AFP, sob a condição de anonimato devido ao temor de represálias, que na realidade há apenas quase 30.000 milicianos treinados e armados. Vários "milicianos pescadores" participam dos exercícios em La Orchila.
V.Zimmermann--VZ