Venezuela suspende acordo de gás com Trinidad e Tobago após exercícios militares com EUA
A Venezuela suspendeu nesta segunda-feira (27) o acordo energético que mantinha com Trinidad e Tobago, poucas horas depois do país insular receber um navio de guerra dos Estados Unidos para exercícios militares.
Ambos os países caribenhos mantinham, desde 2015, um amplo acordo de cooperação no setor de gás. A vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez, que também comanda o estratégico Ministério de Hidrocarbonetos, afirmou mais cedo que seu gabinete e a petroleira estatal PDVSA recomendaram ao presidente Nicolás Maduro o rompimento do acordo.
O governante venezuelano considerou uma "ameaça" as manobras militares de seu vizinho insular com Washington, realizadas com o contratorpedeiro USS Gravely (DDG-107) no âmbito das operações de combate às drogas que os Estados Unidos conduzem no Caribe.
"Aprovei a medida cautelar de suspensão imediata de todos os efeitos do acordo energético e de tudo o que foi acordado nesta matéria. É uma medida cautelar para a qual tenho autoridade como presidente e que aprovei e assinei. Está tudo suspenso!", declarou Maduro em seu programa de televisão.
A primeira-ministra de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, reagiu afirmando que seu país "não está sujeito a nenhum tipo de chantagem política".
"Nosso futuro não depende da Venezuela e nunca dependeu", disse Persad-Bissessar à AFP por mensagem de texto.
– Tensões –
Trinidad e Tobago recebeu recentemente autorização dos Estados Unidos para explorar um campo de gás em território venezuelano, próximo à fronteira comum, apesar do embargo imposto a Caracas desde 2019.
As relações bilaterais deterioraram-se desde que Persad-Bissessar chegou ao poder com um discurso crítico à imigração venezuelana e fortemente alinhado a Washington.
"A primeira-ministra, em uma atitude hostil e agressiva contra a Venezuela, aderiu aos planos belicistas dos Estados Unidos", afirmou Rodríguez.
"Decidiu transformar o território deste país-irmão em um porta-aviões dos Estados Unidos, em uma colônia militar americana, prestando-se a um plano de guerra por petróleo e gás", acrescentou.
Persad-Bissessar garantiu que não manteve até agora nenhuma reunião com a Venezuela sobre temas energéticos.
O USS Gravely permanecerá em Trinidad e Tobago até 30 de outubro. É uma das embarcações enviadas por Donald Trump ao Caribe, às quais se somará, nos próximos dias, o porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo.
As operações americanas já causaram a morte de pelo menos 43 pessoas em dez ataques contra lanchas que supostamente transportavam drogas no Caribe e no Pacífico.
Mais cedo, o governo venezuelano anunciou que desmantelou uma suposta "célula criminosa" ligada à CIA, que planejava atacar o USS Gravely em uma ação de "bandeira falsa" para culpar Caracas.
P.Schulz--VZ