

Cortes na ajuda dos EUA ameaçam o progresso na luta contra aids, diz ONU
A interrupção da ajuda externa dos Estados Unidos ameaça "reverter" os ganhos obtidos em décadas de esforços globais para conter a pandemia de aids, afirmou a ONU nesta quinta-feira (10).
Quase 31,6 milhões de pessoas estavam tomando medicamentos antirretrovirais em 2024, e as mortes por doenças relacionadas ao HIV caíram mais da metade desde 2010, segundo um novo relatório da Unaids.
No entanto, é provável que os casos aumentem, já que os cortes no financiamento dos EUA levaram ao encerramento de programas de prevenção e tratamento.
Os Estados Unidos têm sido historicamente o maior doador mundial de ajuda internacional, mas o corte repentino ordenado pelo presidente Donald Trump em fevereiro colocou os esforços humanitários em risco.
"Estamos orgulhosos das conquistas, mas tememos que a interrupção repentina reverta o progresso que alcançamos", disse à AFP a diretora-executiva da Unaids, Winnie Byanyima, antes do lançamento do relatório em Joanesburgo.
A agência da ONU alertou em abril que a suspensão permanente do Pepfar, o programa de ajuda dos EUA para combater a aids, levaria a mais de 6 milhões de novas infecções e 4,2 milhões de mortes adicionais relacionadas à doença nos próximos quatro anos.
Se isso acontecer, a pandemia retornaria a níveis não vistos desde o início dos anos 2000.
"Isso não é apenas um déficit de financiamento, mas uma bomba-relógio", cujos efeitos já estão sendo sentidos em todo o mundo, afirmou Byanyima em um comunicado.
Mais de 60% de todas as organizações de luta contra a HIV lideradas por mulheres pesquisadas pelo Unaids perderam financiamento ou tiveram que suspender seus serviços, segundo o relatório.
Na Nigéria, por exemplo, o número de pessoas recebendo a medicação preventiva contra a transmissão, PrEP (sigla em inglês) diminuiu mais de 85% nos primeiros meses de 2025.
"A história de como o mundo se uniu" para combater a aids é "uma das histórias mais importantes de progresso na saúde global", disse a representante da Unaids à AFP.
"Mas essa grande história foi interrompida" pela medida "sem precedentes" e "cruel" de Trump, acrescentou, considerando que a ajuda que "salva vidas" não deve ser retirada "simplesmente assim".
Pesquisas médicas cruciais sobre prevenção e tratamento também foram suspensas, muitas delas na África do Sul, que tem uma das maiores taxas de infecção do mundo e emergiu como líder em pesquisa global.
Em apenas 25 dos 60 países de baixa e média renda pesquisados pela Unaids, os governos encontraram maneiras de compensar parte da lacuna de financiamento com seus próprios recursos.
"Não há dúvida de que o investimento valeu a pena, e continua valendo. Ele salva vidas", concluiu Byaniyma, instando à redução da dívida e a reforma das instituições financeiras internacionais para "liberar o espaço fiscal necessário para que os países em desenvolvimento custeiem sua própria resposta".
A.H.Hoffmann--VZ